quarta-feira, 31 de outubro de 2012

VÍTIMA DE UM DEUS CRUEL


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Um amigo, recentemente, questionou o porquê Deus não acabava logo com a maldade dos homens. Certamente, pedófilos, assaltantes, assassinos, genocidas e outras categorias de homens maus não existiriam. De onde vem essa maldade que vemos atualmente? Mães que jogam crianças no lixo ou perversos que tiram o olho de um cão ou gato por prazer estão, para Deus, estão no mesmo pacote de cristãos que, da boca para fora, o adoram, porém vivem uma vida de engano.
Atribuir à Deus a maldade no mundo, não é só um equívoco teológico. Está diretamente ligada à educação cristã que não possuímos. Somos maus, perversos e a única coisa que nos distancia, mesmo que por poucos centímetros de um pedófilo, é a CRUZ. Afinal, você e eu, por mais que quiséssemos não formamos um elite gospel/cristã/evangélica que nos faz melhor que um assassino.
Há um mal com o qual temos que conviver no mundo. O homem foi criado bom, mas se tornou mal. Adão, eu e você escolhemos isso.
Aqui é o ponto que esclareço o título deste artigo. Alguns cristãos tentam explicar a maldade (como a tragédia em Realengo) ou psicologizar a humanidade colocando a responsabilidade em Deus, e, por consequência, acabam se colocando no papel de vítimas deste Deus Cruel. Erram, porque sequer voltam à Bíblia para entender sua própria fé.
Ele nos amou enquanto ainda éramos pecadores, isso é o que diz a minha bíblia1. Entre me condenar, por causa do meu pecado, à uma vida horrorosa, Deus escolheu redimir esta criatura às custas do sofrimento de seu filho. Acho que você o conhece, certo?! Estranhou a pergunta? É isso mesmo, você realmente conhece ou reconhece o que Ele fez por você! A cruz não é um símbolo apenas. Lembre-se que foi nela, que Ele tornou possível o seu culto no domingo. Mais que isso, abriu a possibilidade de você sair de um estado de trevas e enxergar a Luz.
Ao invés de acabar com a maldade, Ele oferece a CRUZ. A CRUZ grita PERDÃO e REDENÇÃO ao invés de CULPA e MORTE!
Referências
1.João 3.16-18

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Deus não está na Igreja!


igreja
Calma, calma…antes que você me rotule como herege leia Atos 7.48,49.
Deus não está em templos, seja eles pequenos onde no máximo caibam 10 pessoas ou gigantescos e suntuosos para milhares. Deus não deve ser buscado e adorado somente em um dia da semana (Shabat) ou só nas atividades da Igreja (culto). Deus não se apresenta mais somente para um grupo exclusivo de pessoas (sacerdores).
Uma nova aliança foi estabelecida, um novo testamento foi escrito, onde Deus se apresenta para todos os povos através do sumo sacerdote dos bens futuros, Jesus Cristo (Hebreus 9).
Neste novo momento estabelecido pela morte de Jesus foi dado o livre acesso à Deus, o véu do templo se rasgou, todos os dias se tornaram ótimos para que adoremos ao Senhor (Romanos 14.5,6; Colossenses 2.16,17), fomos abençoados, feitos povo de Deus,  diretamente por Ele sem a necessidade que outro homem hoje fizesse isso por nós (1 Timóteo 2.5; 1Pedro 2.9,10). Jesus disse que, se crermos que Ele é o Filho de Deus e que veio ao mundo para nos salvar, nos deixaria o Espírito Santo para entrar em nossa vida e fazer morada. Portanto, estamos sob Sua Graça, e Sua Graça nos basta para a Glória de Deus! (1 Coríntios 10.31).
Cuidado! Se você estiver buscando a Deus na igreja XYZ ou ABC porque lá Deus faz isso ou aquilo, não é a Igreja que faz isso, é Deus! E ele é Deus em todos os lugares!
E onde Deus está?
Deus está em todo lugar (veja bem, não é todo lugar que é Deus – isso é panteísmo). Ele é um Deus pessoal, o criador de todas as coisas. Assim, Deus não está limitado a uma igreja e nem a um grupo de pessoas. Deus está em lugares onde talvez você nunca entraria. Nos mais escusos lugares, onde pessoas pensam estar distantes e escondidas de Deus, ali Deus está também. E nestes lugares Deus pode operar milagres e salvar pessoas.
Deus está agindo em favelas, embaixo dos viadutos, na cracolândia, na roda do baseado, em hospitais, em bares, e onde Ele quiser agir. Sejamos os portadores da palavra de Deus para leva-la a estes lugares.
Muitos querem trazer as pessoas para a Igreja como se lá fosse um lugar especial. A igreja se reúne em lugares. Porém os lugares não significam nada. O que dá significado é a reunião dos cristãos, seja onde for. Se existem pessoas que você conhece e que não desejam ir à Igreja, então que você seja a igreja indo até elas.
Publicado em 24 de outubro de 2012, por  - Publicado em Artigo

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Qual é o sentido da sua vida?


Qual é o sentido da sua vida? Para que você veio ao mundo? Qual é a razão de Deus ter idealizado, projetado, formado e soprado vida em você? Será que foi para nascer, crescer, ganhar dinheiro e morrer? Biblicamente nós fomos criados para a glória do Senhor. Mas como podemos fazer nossos poucos anos de caminhada nesta terra valer a pena de modo a realmente glorificá-lo? Se não pensarmos sobre isso e conseguirmos fazer acontecer, não só não teremos glorificado a Deus como teremos tido um existência inútil. Sim, há algo mais. E o tempo para pormos esse algo em prática é muito curto.
A civilização em que eu e você nascemos é regida pelo dinheiro. Somos adestrados desde a infância a acreditar que a meta de nossa vida é alcançar fama e fortuna. É por isso que pessoas que não fazem nada e dão péssimos exemplos são consideradas "vencedoras" desde que fiquem famosas e faturem um bom dinheiro. O exemplo mais emblemático disso é o Big Brother Brasil. Em geral, seus participantes são modelos horríveis de comportamento e valores e ganham um milhão de reais para ficar sentados numa casa sem fazer nada. Ainda são chamados pelo apresentador de "nossos heróis". A meu ver eles são o arquétipo de quem nossa sociedade quer que sejamos: famosos e milionários, não importa por que meios.
É para isso que Deus criou você? É para isso que você acorda a cada manhã? Para se empanturrar de comida, perder horas preciosas na frente da televisão ou da internet, trabalhar para ganhar mais e mais dinheiro e gastar seu tempo imaginando uma maneira de fazer seu nome famoso e sua conta bancária mais polpuda? Não, meu irmão, minha irmã. Uma vida sem entrega pelo próximo não é uma vida do ponto de vista bíblico. Não passa de sobrevida. É vegetar espiritualmente. Dar sentido à vida é parar de olhar para o próprio umbigo e fazer algo que sirva para ajudar seres humanos em suas dores, seus sofrimentos e suas angústias.  Veja o exemplo de Agnes Gonxha Bojaxhiu.
Se você não sabe quem é Agnes, deixe-me falar um pouco sobre ela. Nasceu no paupérrimo e pequenino país chamado Macedônia, de uma família de etnia albanesa, e se naturalizou indiana. A Índia, vale lembrar, é o país das castas e de milhões de pessoas miseráveis financeiramente. Agnes não tinha dinheiro, mas possuía  aquilo que de maior valor pode ter um ser humano: um coração bondoso e lágrimas nos olhos pelos seus semelhantes. Ela decidiu fazer valer sua existência. Fundou uma organização de mulheres dedicadas à caridade e investiu sua vida em cuidar dos outros. Sem se preocupar com o próprio bem-estar, imergiu no mundo da miséria humana com sua mão amiga e o coração magnânimo, a ponto de receber o apelido de...adivinha? "A grande heroína"? "Magnífica mulher de Deus"? "A maior entre as maiores"? Não, nada disso. Seu apelido era "Santa das sarjetas". Que tal?
O lema que resumia a missão da instituição que Agnes fundou era "Topa tudo por dinheiro", será? Não, na verdade não. Também não era "Acordar, faturar, dormir". Muito menos "Saciar a sede por poder, influência, dinheiro e fama, dando todo meu suor para projetar meu nome". Era, isso sim: “Saciar a infinita sede de Jesus sobre a cruz de amor e pelas almas, trabalhando para a salvação e para a santificação dos mais pobres entre os pobres”. Certamente não é uma declaração de missão que você encontraria num quadro pendurado no escritório de gente como Donald Trump ou Roberto Justus. Menos ainda no de muitos líderes de certas denominações neopentecostais.
Nos anos 50 e 60, Agnes ampliou o raio de ação de sua organização para toda a Índia. Em 1965 chegou à Venezuela. Depois alcançou a Europa (na periferia de Roma, na Itália) e, em 1968, passou a atuar também na África (na Tanzânia). Até 1980, a instituição de caridade criada pela iniciativa dessa única mulher pobre levava amor, cuidado, amparo médico e calor humano para todo o mundo, da Austrália ao Oriente Médio, passando pelas Américas e até países comunistas (como Alemanha Oriental e a antiga União Soviética), num total de 158 centros de auxílio. O passo seguinte foi abrir centros de ajuda para doentes pobres com AIDS .
No final dos anos 80 e início dos 90, Agnes começou a ter sérios problemas de saúde. Isso não a impediu de continuar viajando pelo mundo para abrir novas casas de missão e devotar-se aos pobres e às vítimas dos mais diversos tipos de calamidades. A frágil e pequena mulher inaugurou novas comunidades na África do Sul, na Albânia, em Cuba e no Iraque, país dilacerado por causa da guerra. Em 1997, a instituição que Agnes fundou contava com 4 mil voluntários, que devotavam-se ao próximo em cerca de 600 unidades espalhadas por 123 países do mundo. Naquele ano, Agnes morreu, aos 87 anos de idade, após cumprir uma viagem dedicada a ações humanitárias por três cidades da Europa e dos Estados Unidos.
O que você acha, a vida de Agnes valeu a pena? Não acumulou riquezas. Nunca se casou. Não teve filhos. A fama que obteve foi em função da notoriedade que suas iniciativas pelo bem-estar do próximo alcançou. Abriu mão dos prazeres e do conforto deste mundo para que cada um de seus dias sobre a terra valesse a pena. Seu legado hoje permanece entre nós, não na forma de arranha-céus, catedrais ou monumentos suntuosos, mas na forma de milhares de vidas humanas abençoadas por seu amor, sua devoção, sua entrega pelo próximo, sua abnegação e sua preocupação muito maior com os outros do que consigo mesma. Que mulher magnífica! Penso na vida de Agnes e naquilo que ela fez por todas essas almas e confesso que lágrimas rolam por meu rosto, ao ver quão desgraçadamente longe estou de ter um vida com tanto significado quanto a dela. Eu quero ser como ela quando crescer. Quero que meus dias façam sentido, um sentido que vá muito além de ganhar dinheiro, prêmios e bajulação, mas que ecoe no Céu e pela eternidade como dias que compuseram uma vida que valeu a pena.
Penso em todas as vezes em que fui vaidoso e preocupado com vantagens materiais e vejo que completo imbecil eu fui. Porque isso não vale nada. Não vale um minuto sequer sobre a terra. Olho fotos de certos pastores, que posam com a Bíblia na mão como se fosse um cetro dos antigos Césares, e vejo como a vaidade e a ambição humana nos distorcem e nos transformam em pedaços de carne dignos de pena. Não, não quero seguir pelo caminho da fama e da fortuna. Quero sustentar minha família com honradez, dando dignidade aos meus mas sem perder o foco do que realmente interessa e sem passar por cima ou defraudar meu semelhante para isso.
Se você me perguntar hoje qual é meu maior sonho no momento eu diria, sem nenhum desejo de parecer magnânimo, que é uma dia chegar a fazer pelo próximo 0,5% daquilo que Agnes Gonxha Bojaxhiu fez. Não sei ainda como, quando ou onde, mas minha oração ao Senhor é que me mostre. Que me encaminhe para isso da forma que achar melhor. E seja feita Sua vontade, na terra como no Céu. Também oro a Deus que toque muitos corações para que vejam o que realmente importa na pátria celestial - e não nesta decadente civilização consumista em que vivemos enquanto peregrinos nesta terra estranha.
Quando Agnes morreu, compareceram ao seu funeral chefes de nações, primeiros-ministros, rainhas e enviados especiais de dezenas de países de todo o mundo. Algo que ela certamente dispensaria, visto que passou a vida entre os miseráveis, os doentes, os sofredores e os pequeninos. Nem mesmo o Prêmio Nobel da Paz que recebeu mudou sua rotina de enfiar os pés nos lamaçais dos recônditos mais humildes e necessitados do planeta para abençoar vidas. Nada desviou aquela pequena gigante de seu propósito maior: glorificar Deus por meio dos mais sinceros e devotados gestos de amor pelo próximo. E você? Qual é o propósito maior da sua vida? E o que você tem feito para alcançá-lo? Se não tem feito nada além de tentar ganhar dinheiro ou projetar o seu nome, este é um bom momento para começar a parar de correr atrás de vento e dar início a algo que de fato dê sentido a sua vida.
Ah, sim: se você ainda não ligou o nome à pessoa, Agnes é mais conhecida como... Madre Teresa de Calcutá.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

domingo, 14 de outubro de 2012

Verdade


Ed René Kivitz
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar.
Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
O poema de Carlos Drummond de Andrade é um convite à humildade e à comunhão. Comunhão não existe sem humildade. E sem as duas, não existe experiência da verdade. A verdade a gente não sabe. A verdade a gente vive quando ela se apropria da gente. A verdade não é coisa da razão, resultado da reflexão. A verdade é soma de corações e não de cabeças. A verdade é coisa fugidia, que não se deixa prender na gaiola dos raciocínios, não cai nas armadilhas dos pensamentos.
A verdade é isso, a gente experimenta, saboreia, se delicia, mas não fica com ela como quem tem posse, pois a verdade é maior do que nós. Em cada um de nós só cabe meia verdade. E a gente tenta fazer uma verdade inteira juntando as partes e ficando com elas, como quem rouba do outro a metade que está com ele, pra depois a gente ficar dono da verdade. Mas a verdade não participa desse jogo.
O jogo da verdade não é soma, é partilha. Não é brincadeira onde quem tem mais meias verdades ganha. É mais como uma dança aonde a beleza e o alumbramento vêm no par, ou até mesmo na roda, aonde as mãos e braços vão se encontrando e se despedindo, até que todo mundo na roda vive a verdade, e brinca com ela cada vez que os braços se entrelaçam e as mãos se acariciam. No fim da noite, quando cada um vai para casa descansar, a verdade também se recolhe, para que no dia seguinte todo mundo se precise novamente. Assim a humildade e a comunhão cuidam da verdade.
Na dança da verdade, meia verdade é verdade com limite, é verdade incompleta, dizendo para todo mundo que as idéias são menos importantes que as pessoas. Quem não consegue entrar na roda e quer espreitar para colecionar fragmentos de verdade, imaginando ser possível ficar dono da verdade e viver tomando conta da verdade, de fato, não vive com a verdade, mas com o capricho, a ilusão ou a miopia. Porque prefere as idéias às gentes, fica com a mentira, porque a verdade é uma pessoa e não um conceito.
A verdade é uma pessoa, que gosta de brincar, de rir e de chorar. A verdade é uma pessoa que se dá a conhecer na comunhão dos humildes: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”, disse a verdade inteira aos que tinham consigo apenas meias verdades.
fonte: Blog do Ed René Kivitz

domingo, 7 de outubro de 2012

Gramática de carne e sangue


Imagem: Google
Publicado por Sostenes Lima
Houve um dia em que Deus se cansou de ser fabricado, construído e grosseiramente reproduzido em palavras. Se cansou de ser ídolo. Desistiu da linguagem denotativa como recurso para se fazer conhecido. Abandonou definitivamente os cânones da religião. Percebeu que tudo que aí se dizia (e se diz) a seu respeito tinha (e tem) um poder incrível de se transformar em parafernália religiosa.
Deus viu que todos os textos que tentavam trazê-lo para perto dos seres humanos, uma vez sob o controle dos magnatas da religião, logo se transformavam (e ainda se transformam), em dispositivos de opressão e desumanização. Deus notou que os textos sagrados, quando entram para o domínio do aparelho religioso, perdem a vida e se revestem de morte.
Depois de tanto desencanto com os textos e com o aparelhamento da religião, Deus decidiu vir aos homens revestido noutro tipo de palavra. Deus se cansou de ser obscurecido, aviltado e demonizado pelos textos que o aparelho religioso produz (e continua produzindo) sobre ele. Decidiu, então, fazer de si mesmo um texto de carne, uma poiesis encarnada.
Deus quis se mostrar de verdade. Para isso, revestiu-se de carne humana, de ossos humanos, de desejos humanos, de cognição humana, de psiquismo humano, de abraços humanos, de beijos humanos, de histórias humanas, de prosa humana, de poesia humana. Deus rompeu com a linguagem referencial e se casou com a matéria e poiesis humanas. Deus virou um poema em carne, que desbrava e encanta corações sequiosos de contemplação, ternura, afeto. Deus passou a morar em histórias que celebram o desmoronamento das estruturas religiosas. Deus virou um contador de histórias da vida cotidiana, abandonando de vez a tribuna dos grandes eventos litúrgicos e as cátedras das grandes escolas rabínicas.
Deus virou um de nós para nos mostrar que nenhum monumento de linguagem referencial, nenhuma confissão teológica, nenhum acontecimento litúrgico pode tocá-lo. Apenas um texto recoberto de sensibilidade (um poema, uma metáfora, uma história, um causo) pode traçar alguns de seus contornos. Nenhum edito, encíclica, confissão, sermão, petição, relatório etc., que esteja a serviço de algum empreendimento religioso, contém Deus.
Deus não se deixa conceituar porque sabe que conceitos podem virar instrumento de morte. Muitos já mataram e muitos já morreram por causa de algum conceito religioso. É por isso que Deus jamais foi textografado. Deus sempre soube que um texto que o refletisse com precisão, compondo uma Textografia de Deus, mais cedo ou mais tarde (talvez só mais cedo), cairia na mão de algum magnata religioso (pessoal ou institucional) e se transformaria num instrumento de exploração, dominação e execução.
Deus nunca esteve em textos que servem para oprimir, excluir e matar. Aliás, Deus nem chega perto de eventos nos quais textos assim estejam sendo lidos/falados, a não ser para recolher dali os fracos e pobres que estão sendo massacrados.
Deus, agora, não está mais nos textos. Ele está nas pessoas. Deus virou gente para não precisar mais da mediação dos textos. Deu um basta na farra que os religiosos estavam fazendo em nome de textos supostamente sagrados ou supostas teotextografias. Na verdade, Deus se cansou de ser vítima dos textos. Fez de si mesmo o texto a ser seguido, imitado, lembrado.
Sem a necessidade dos textos como elementos de mediação, os magnatas do esquema religioso agora estão de mão abanando. E foi se a glória da máquina religiosa! Ninguém precisa mais se submeter a nenhum rabino, sacerdote, apóstolo, profeta, padre, pastor, bispo, reverendo etc. etc. Deus é o próprio texto encarnado, escrito numa gramática de carne e sangue, que pode ser lido/comido por qualquer um. O verbo se tornou carne e nos disse: “Este é o meu corpo que é dado por vocês. Comam dele todos. Deixem que as estruturas do verbo sejam dissolvidas na alma, no caráter e no afeto de vocês. E, assim, sejam impelidos à prática do amor”. Amém.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

5 mentiras que a igreja me contou...



A vida cristã e a tirania das metas
Metas, objetivos e alvos numéricos, quem está livre deles hoje? Vivemos em uma sociedade massacrada pelos números. Em sua empresa você está moralmente obrigado a produzir cada vez mais sob risco de demissão caso falhe no cumprimento de suas metas. Na escola ou na faculdade seus professores exigem uma quantidade mínima de leitura e produção acadêmica, além da tirania dos ponteiros da balança que insistem em jogar na sua cara que você não está cumprindo a meta do peso ideal. Os números te sufocam. Os números te acusam insolentemente.

Entretanto você encontra em sua comunidade de fé um ambiente acolhedor, livre da opressão dos números e das metas, certo? Infelizmente isso nem sempre é verdade, pois, algumas igrejas acham que a grande comissão dada por Jesus está atrelada ao cumprimento de metas numéricas. “Você deve trazer durante este mês pelo menos uma pessoa não salva!” – pedem alguns líderes. “Quantas almas você ganhou para Jesus no ano passado?” – acusam outros. E, onde deveria ser um ambiente de restauração e refrigério, acaba tornando-se outro lugar para o cumprimento de mais tarefas e metas. Os números te acusam até mesmo na igreja.
A justificativa que muitos líderes dão está supostamente baseada no texto de João 15. “O crente deve dar frutos, senão será cortado da árvore!” - asseveram os feitores dos números. Certa vez, ouvi de um destes pastores numerólogos que os frutos que Jesus menciona neste trecho são as almas que ganhamos para o Reino de Deus. “E agora? Ainda não levei ninguém a Cristo este ano” – preocupa-se aquele irmão dedicado e envolvido com a obra de Deus. “Eu testemunhei, mas ninguém se converteu.” – confessa ele ao seu travesseiro. “Eu convidei meus vizinhos e parentes para o musical anual da Igreja, mas ninguém aceitou meu convite” – desabafa com sua pesada consciência.
Ao mesmo tempo em que a meta de quantas “almas” ganhamos para Jesus é apresentada também ouvimos que o Evangelho liberta. E isso causa confusão e frustração na mente de muitas pessoas que desejam viver uma vida cristã coerente. Porém, este conceito de um evangelho baseado em metas numéricas pode ser desfeito pelo estudo do contexto de João 15.
Nesta passagem Jesus diz que seus discípulos devem dar frutos, e isso é incontestável. Mas a qual fruto Jesus está se referindo? Uma leitura cuidadosa vai nos mostrar que Jesus esta falando do amor que seus discípulos devem mostrar uns aos outros, tal como o próprio Jesus mostrou por eles. Aqui Jesus sequer menciona o processo de evangelização que tomamos como certo para gerar tais frutos. Jesus não condiciona o discipulado a qualquer método numérico, nem projeta um sistema de crescimento por meta alcançada.
Jesus nos liberta da tirania das metas e dos números ao nos mandar amar ao próximo e não condiciona nossa ligação ao tronco com o cumprimento ou não da meta. Nossa ligação com o tronco está condicionada ao amor que temos uns pelos outros, pois, se não amamos aqueles a quem vemos como poderemos amar a quem não vemos? Se não temos amor uns pelos outros não temos o amor do Pai, e, se não temos o amor do Pai, logo não estamos ligados ao tronco.
Portanto, o fruto não é uma meta numérica de quantas almas ganhamos para Jesus, mas o ideal de uma vida de amor pelo próximo.
Que o Senhor te abençoe e te guarde.

Alexandre Milhoranza 

domingo, 16 de setembro de 2012

Todos somos hereges! (A falácia da literalidade bíblica)


José Barbosa Junior, no Crer também é pensar
Somos todos hereges!
Uns mais, outros menos, mas a verdade é que todos somos.
Constantemente, seja em debates “ao vivo”, seja em debates de ideias pelas redes sociais ou em blogs, um dos argumentos que mais ouço, quando se trata de uma discussão entre “religiosos” é a velha proposição “me prove na Bíblia”.
Quero começar dizendo, para deixar claro a que este texto se propõe, que QUALQUER coisa que se quiser, se “prova” na Bíblia. Dizem até que “a bíblia é a mãe de todas as heresias”. Concordo!
Mas… heresia sempre é o que o OUTRO pensa!
O problema, quando se trata da questão do argumento “bíblico”, é que ele, simplesmente, não existe. Ou, se existe, existe imperfeito, refém de nossas interpretações e de nossas pré-leituras da própria Bíblia. Sim, por mais que nunca a tenhamos lido, quando a lemos pela “primeira vez”, antes disso já nos foi incutida uma ideia preconcebida, que acaba por delimitar nossa interpretação.
Um exemplo: o “pecado original”. O texto nunca usa esse termo, e muito menos fala de “pecado” na narrativa de Gênesis, mas nós já vamos para o texto com a ideia pré-moldada: uma árvore frondosa, uma serpente enroscada nos galhos trazendo à boca uma enorme maça, linda, vermelha, e uma mulher, quase sempre loira (apesar da narrativa acontecer nas bandas do Oriente Médio), com cabelos longos e esvoaçantes que logo depois entrega a fruta, já com uma mordida, ao seu marido, de músculos bem definidos e cabelos curtos. Ele também come e, por causa disso, entra no mundo o “pecado original”. Onde estão estas coisas no texto? No texto, não estão, mas já estavam na cabeça de quem foi “ler” o texto.
Infelizmente, para decepção de muitos, lamento dizer que não existe essa coisa do “a Bíblia diz…” Deveríamos ser mais honestos e afirmar: “O que interpreto da Bíblia, neste aspecto, pode ser…”
Os que defendem a “literalidade” da interpretação bíblica são de duas espécies: os ingênuos e os mal-intencionados.
Os ingênuos são aqueles que sempre foram ensinados assim. “Irmão, a Bíblia diz que é pecado…”, “O pastor disse que a Bíblia, no original, quer dizer isso…”. Para estes, o que está “escrito”, escrito está… e deve ser seguido ao pé da letra, mesmo que isso não faça o menor sentido. Mas aqui já enfrentamos um pequeno problema: não se segue TUDO o que está escrito. O que deve ser seguido ao pé da letra é apenas aquilo que me interessa.
Acabamos por cair no segundo grupo: os mal-intencionados: gente que sabe que “não é bem assim”, mas tem que dizer que “é assim”, porque é isso que lhes confere autoridade, poder e, muitas vezes, o emprego.
Ora, qualquer estudioso minimamente honesto, sabe que não há isso que chamamos de “interpretação literal”, porque isso é simplesmente impossível.
O que há na verdade são ESCOLHAS daquilo que deva ser “ensinado” literalmente. Leia-se aqui: eu escolho aquilo que me dá poder! Aquilo que me faz estar certo e os outros errados. Neste ponto, somos todos hereges, já que a palavra “heresia” vem do grego hairesis, que significa “escolher”…e  tem exatamente essa intenção: herege é aquele que escolhe (para seu proveito) o que lhe interessa de um texto.
Essa leitura literal da Bíblia é uma falácia. Ela não existe. E quando existe, como já falei, existe milimetricamente escolhida para favorecer o “meu” ponto de vista.
Os que defendem a leitura literal da Bíblia criam armadilhas das quais eles mesmos não conseguem escapar. Não conseguem, mas tentam… e sobra pra “soberania” (no caso dos históricos) ou pro “mistério” (no caso dos pentecostais, neo, etc…). É mais ou menos o “bota na conta do Papa”, frase pitoresca do filme “Tropa de Elite”.
Porque se formos totalmente literais, estamos em maus lençóis, nós e o Deus a quem dizemos servir… um Deus que mandou matar muita gente, que manda os homens todos de uma nação despedirem suas mulheres e filhos, e os lançarem  ao deserto; um Deus que manda matar a família toda de um cara porque ele escondeu “despojos de guerra”; um Jesus que fica bravo porque a figueira não tem fruto (fora da estação de frutos) e manda-a secar; enfim, um Jesus que diz que, caso teu olho ou mão te façam escandalizar, é melhor arrancá-los (Ah! Não…. esse é um dos versículos que nem os literalistas gostam que seja literal)…
Então você sugere que a Bíblia contenha erros históricos e de interpretação? Exatamente! O conceito de inerrância é o que sustenta o edifício da literalidade… aliás são retroalimentadores.
A Bíblia não arroga ser um livro histórico, nem mesmo um livro doutrinário… ela é um livro da fé. E da fé de um povo! E acompanha o desenvolver da fé desse povo… de seu “descobrir” Deus, ou daquilo que pensa ser Deus… e cuja revelação se dá, para um outro povo (já que o povo “original” não reconhece essa revelação) em plenitude, numa pessoa: Jesus, o Deus encarnado.
Ora, se Jesus é a encarnação do Deus que desde o princípio se revela… ou Deus mudou muito ou há algo de errado naquilo que se entende de Deus até então. E dizer que Deus mudou causa furor nos “literalistas”, ainda que, literalmente o texto diga que Deus “se arrependeu”. Neste caso ocorre uma coisa engraçada, que só reforça a heresia de cada um. Os fundamentalistas, impedidos que são de acreditar num Deus que mude de ideia, tem que dar um jeito nos textos que afirmam isso (as ginásticas para fazer um texto encaixar numa teologia sistemática são muito engraçadas). Tiram da cartola, então, o conceito de antropopatia, que seria atribuir a Deus sentimentos humanos quando não conseguimos explicar o que realmente acontece com a divindade. Qual o problema? É que a antropopatia só vale nos textos em que Deus se arrepende. Nos outros textos, todos os sentimentos são “literais”. Interessante, não?
Não existe leitura “pura” da Bíblia. Toda leitura bíblica já é, em si, uma interpretação. E se é uma interpretação, não pode mais ser “literal”. O sentido já foi deturpado há muito. Como saber, então, o sentido verdadeiro do texto? Fácil, pergunte ao seu autor (se bem que o texto geralmente é polissêmico e não pertence mais ao seu autor depois de escrito). Mas, como perguntar ao autor, se este já não existe mais há milênios? Quem poderá resolver o problema? É aí que os literalistas são mais esquizofrênicos. Criam a “iluminação” do Espírito para que haja a VERDADEIRA interpretação do texto. Claro, porque para defender isso também têm que colocar o Espírito Santo como verdadeiro autor das Escrituras. Logo, se Ele é o autor, Ele nos responderá.
Muito boa resposta!
Mas… qual “Espírito Santo” estará com a razão?
O da Igreja Católica, que também inspira o magistério na “interpretação”?
O dos protestantes históricos, para os quais o Espírito não dá mais línguas, mas que é uma babel de interpretações?
O dos pentecostais, cuja pluralidade de línguas nos faz imaginar que cada língua é uma estranha interpretação?
O dos neopentecostais, que produz pastores em série, com a mesma voz e o mesmo discurso, mas com interpretações cada vez mais loucas?
O de outras confissões religiosas (ou você acha que o vento só sopra debaixo do nosso nariz)?
Resolvi caminhar com a interpretação plena em Jesus… e o que se parece com Ele, eu procuro seguir… o que não se parece, descarto, como sendo algo fruto de uma época e de um contexto, mas não tendo mais o que dizer hoje.
Hummmm… só tem um problema: a minha interpretação também já é uma heresia… uma escolha… uma interpretação. Quem garante que estou certo?
Ninguém… nem eu mesmo. Mas é o que pra mim faz sentido, e que deságua numa fé que caminha com o diferente, o acolhe e aprende com ele, numa fé que admite outras possibilidades… numa fé que não me dá mapas, mas me oferece companhia no Caminho… aposto todas as minhas “fichas” nisso. Sim, toda interpretação é uma aposta! Nada mais que isso…
E a Bíblia? Continua sendo Palavra de Deus, como livro da fé… como carta de amor que leio numa relação com Aquele em quem creio.
Não temos para onde escapar.
Todos somos hereges!
Uns mais,outros menos… mas somos!
Essa é a minha heresia!
Qual a sua?
pintura: “O Pecado Original”, de Michelangelo

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A falência da Indústria Religiosa



Por Hermes C. Fernandes

Por que despertamos o ódio de tanta gente quando expomos a Verdade em contraposição dos métodos e estratégias usadas pela igreja atual? Basta um artigo sobre assuntos polêmicos como a famigerada teologia da prosperidade, para que o ânimo de alguns se altere. Quando comentam em nossos artigos, em vez de exporem seus pensamentos com base nas Escrituras, preferem os ataques pessoais, tentando minar nossa credibilidade e pôr em xeque nossas motivações.
Por incrível que pareça, este não é um fenômeno recente. A igreja primitiva teve que lidar com as mesmas reações, ora por parte dos judeus, ora por parte dos gentios.
Um episódio que pode atestar o que estamos afirmando é o que lemos em Atos 19, e que nos mostra o efeito causado pela atuação do ministério de Paulo em Éfeso.
À medida que as pessoas iam se convertendo à Fé, elas abandonavam suas superstições e crendices. O texto diz que “muitos dos que tinham praticado artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos” (v.19). Até aí, tudo bem. Cada um faz o que quer com o que é seu. Quer rasgar, queimar, quebrar, dar fim, o problema é dele. Mas alguém que assistia resolveu calcular o prejuízo. “Feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinqüenta mil moedas de prata”. Uau! Se Judas traiu Jesus por trinta moedas de prata, e isso já era uma quanta considerável, imagine o que representava uma quantia tão vultuosa: cinqüenta mil moedas de prata!
Pra se ter uma idéia do montante, as trinta moedas recebidas por Judas foram suficientes para adquirir um campo. Isso significa que as 50 mil moedas de prata daria pra comprar cerca de 1666 campos! Tudo isso em livros. O mercado editorial de Éfeso entrou em colapso. Aquelas pessoas que dispuseram seus livros para a fogueira, jamais voltariam a consumir tal literatura.
Devemos estar cientes que a pregação do genuíno Evangelho sempre fere interesses. Alguém vai ter que arcar com o prejuízo.
Não bastasse a quebra do mercado editorial, sobrou também para a indústria religiosa.
O texto diz que “por esse tempo houve um não pequeno alvoroço acerca do Caminho. Certo ourives, por nome Demétrio, que fazia de prata miniaturas do templo de Diana, dava não pouco lucro aos artífices. Ele os ajuntou, bem como os oficiais de obras semelhantes, e disse: Senhores, vós bem sabeis que desta indústria vem a nossa prosperidade. E bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos. Não somente há perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo a ser destruída a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo veneram” (At.19:23-27).
Em outras palavras, a mensagem pregada por Paulo doía no bolso e ainda maculava a reputação deles, colocando-os em descrédito perante a opinião popular. Portanto, era uma questão que envolvia dinheiro e reputação, avareza e vaidade. Para disfarçar, eles alegavam que Diana, sua deusa, estava sendo ultrajada, dando assim um ar de piedade religiosa às suas reivindicações. Foi o suficiente para que houvesse uma manifestação popular. – Grande é Diana dos Efésios! Bradava a turba.
No fundo, no fundo, o que os incomodava não era o culto à deusa. Se o templo de Diana fosse reputado em nada, o que fariam os que viviam da venda de miniaturas dele? Imagine se convencêssemos as pessoas que a Arca da Aliança (tão em voga no meio evangélico hoje em dia) não passava de uma figura de Cristo, e que já não serve pra nada. O que fariam os pastores que distribuem miniaturas da Arca por uma oferta módica de 100 reais?
O que seria daquela cidade se o culto a Diana foi exterminado? E os milhares de romeiros que vinham de todas as partes do mundo para ver de perto da imagem que, segundo o dogma, havia caído de Júpiter?

A pregação do Evangelho causou tamanho impacto que bagunçou o coreto daquela sociedade. Todos os esquemas foram desarmados. Era como se a correia dentada do motor que a mantinha em movimento se arrebentasse. De repente, todas as engrenagens pararam. Alguma providência tinha que ser tomada!
Tomaram dois dos companheiros de Paulo e os levaram ao teatro para apresentá-los à turba enfurecida. Paulo quis se apresentar, mas foi dissuadido por algumas autoridades que lhe eram simpáticas. No meio do tumulto, “uns clamavam de uma maneira, outros de outra, porque o ajuntamento era confuso. A maioria não sabia por que se tinha reunido”(v.32). Eis o retrato fiel de um povo “Maria-vai-com-as-outras”, que só serve de massa de manobra nas mãos dos poderosos.
A maioria sequer sabia o que estava acontecendo. Mas não hesitavam em unir suas vozes aos demais em protesto gratuito e desprovido de sentido.

Quando Alexandre se apresentou diante do povo, acenando com a mão como quem queria apresentar uma defesa, “todos unanimemente levantaram a voz, clamando por quase duas horas: Grande é a Diana dos Efésios!” (v.34). Repare nisso: Diana era considerada deusa em todo o império romano. Mas em Éfeso, seu culto tomou um vulto inédito. Ela não era apenas “Diana”, e sim “Diana dos Efésios”. Algo parecido com o apego que muita gente tem à sua denominação. Cristo deixa de ser Cristo, para ser o “Cristo dos Batistas”, o “Cristo dos Presbiterianos”, o “Cristo dos Pentecostais”, o "Cristo dos Católicos", e assim por diante.

Finalmente, o escrivão da cidade (provavelmente um figurão da sociedade efésia), conseguiu apaziguar a multidão, dizendo: “Efésios, quem é que não sabe que a cidade dos efésios é a guardadora do templo da grande deusa Diana, e da imagem que caiu de Júpiter? Ora, não podendo isto ser contraditado, convém que vos aquieteis e nada façais precipitadamente”(vv.35-36). Para tentar controlar o manifesto, o tal escrivão apelou ao dogma religioso. Dogma é aquilo que não se pode contestar. É tabu. Está acima do bem e do mal. Por isso, não se discute. É isso e tá acabado.
A igreja evangélica também tem seus dogmas. Ninguém se dá o trabalho bereiano de averiguar se o que está sendo pregado bate ou não com as Escrituras. Se o líder falou, está dito. E se alguém se atreve a questionar, é logo tachado de herege, e acusado de estar tocando no ungido do Senhor. Creio que isso seja um resquício da velho dogma católico da infalibilidade papal.
Alguém viu quando a estátua caiu de Júpiter? De onde provinha tal certeza? Quem anunciou o fato? Provavelmente foram os sacerdotes do templo de Júpiter, que queriam atrair o público de volta ao templo a qualquer custo.
Há uma indústria religiosa que se alimenta de mentiras, de dogmas inquestionáveis, e de superstições baratas. É esta indústria que corre o risco de quebrar se a verdade do Evangelho for anunciada, e suas mentiras desmascaradas.
Os fiéis não passam de papagaios de pirata, repetindo o que ouvem sem ao menos refletir. Se dissermos que não há mais maldição a ser quebrada, o que será daqueles cuja prosperidade advém desta mentira? Como poderão cobrar para que as pessoas participem de um Encontro num sítio, a fim de que vejam a Deus cara a cara, e assim, sejam libertas de suas maldições?
Veja: compromissos são feitos em cima desses argumentos chulos. A prestação da propriedade adquirida pela igreja. O programa de rádio. O material de propaganda. O salário do pastor. Tudo isso tem que ser garantido pelo esquema montado. É um ciclo retro-alimentado. Se alguém chega pregando algo que contrarie o esquema, é logo taxado de herege, falso profeta, etc., pois interrompe o ciclo, produzindo um colapso na estrutura.
É isto que o Evangelho faz! Todas as estruturas injustas entram em colapso, para que um novo sistema, com engrenagens justas, se erga, tendo como centro o Trono da Graça de Deus.
Acorde, povo de Deus! Voltemos para as Escrituras! Abandonemos a mentira, o argumento falso, o estelionato, e voltemos à prática do primeiro amor. Caso contrário, Deus nos julgará, e reduzirá nossa indústria religiosa (que chamamos carinhosamente de “igreja”) aos escombros.
Não ficará pedra sobre pedra!
 
Fonte:http://www.hermesfernandes.com/2009/09/esvaziando-os-cofres-da-industria.html

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Loucura total


loucura

“Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” (1Co 1.18)
Se tem uma palavra que caracteriza bem o nosso tempo, sem dúvida é a loucura, mas não é a loucura da palavra da cruz a qual o apóstolo Paulo se refere no versículo destacado, e sim uma total insanidade que caracteriza uma massa evangélica sem identidade, ávidos por entretenimento gospel e analfabetos biblicamente. A palavra de Deus se tornou loucura no Brasil não pela fidelidade a Bíblia, mas pelo triste fato de não pregarem a mesma, de distorcerem o seu sentido para dar base as loucuras importadas que invadem as igrejas brasileiras.
Enquanto a loucura dos homens não for confrontada com a de Deus, continuaremos ligando a tv e nos deparando com os profetas da prosperidade e suas aberrações teológicas, meias ungidas, réplicas de templos antigos etc. E qual é a loucura de Deus? A palavra da cruz, ou seja, o evangelho. Pregar sobre a cruz de Cristo sempre será ofensivo a sabedoria do mundo, uma loucura para os teólogos da prosperidade e para o mundo acadêmico, que é tão dominado pelas filosofias ateístas. Infelizmente não se prega mais sobre a cruz, os pastores têm vergonha, preferem incorporar inúmeros artifícios humanos: autoajuda, psicologia barata, filosofia, marketing etc.
Pela bíblia, percebemos que as coisas não estão bem, a loucura dos homens é que tem sido a marca registrada do crescimento evangélico brasileiro, somos alvos de duras críticas por parte dos que não são crentes, e o pior é que eles não estão errados na maioria das vezes. A solução para esse problema não está na sabedoria humana, a qual Deus tornou louca, mas na “loucura” de Deus,  “Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que creem.” (1Co 1.21). A melhor estratégia para um crescimento saudável da igreja é a pregação do evangelho de Cristo sem misturas ou acréscimos, na sua simplicidade e pureza que humilha a nossa inteligência, justamente por vir de Deus e não do homem, portanto, sejamos loucos de Cristo por pregarmos a palavra da cruz e não por sermos barulhentos e ignorantes.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Como a Igreja deveria ser.


Tá, eu exagerei um pouco no título. Dizer como é o modelo “perfeito” de Igreja é a coisa mais idiota que alguém pode fazer. A diversidade cultural refletida nas mais diversas formas litúrgicas, são uma das coisas mais belas que há no Corpo de Cristo. Na verdade pretendo apontar como a observância dos fundamentos nos guia para longe do ativismo e da paranóia por resultados.

O maior patrimônio da Igreja deve ser a Palavra. Ela é o centro de tudo. O grande espetáculo deve sempre ser sua explanação através das mais diversas formas. Ninguém está acima das Escrituras. Nenhuma experiência deve ser considerada se não estiver em conformidade com a revelação SUFICIENTE que a Bíblia nos traz. Como afirmou Lutero, “Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias“.

O Governo da Igreja deve ser exercido por pessoas dignas, maduras e capazes de aplicar os princípios bíblicos à vida da comunidade. Direção profética é discernir o que a própria Escritura nos dá como direção. Não é ficar correndo atrás de profecias anencéfalas, de adivinhações ou de promessas de crescimento. A Igreja também não é uma democracia. O que importa é a fidelidade aos fundamentos bíblicos. A voz do povo não é a voz de Deus. Porém é importante que o governo seja exercido na pluralidade. A Igreja é de Cristo. Nós somos apenas mordomos.

Ministérios (ou departamentos) nunca devem estar acima das pessoas. Os dons devem ser valorizados e cada um deve encontrar o lugar onde pode exercer tais dons de maneira efetiva no Reino de Deus. A idade não é um fator determinante para nenhum tipo de trabalho. O que importa é a vocação, dedicação e experiência. Também não há ministério “melhor” que outro. Por isso é aconselhável que os que ensinam colaborem também com o transporte do som ou a limpeza do local. De vez em quando faz bem, pra não se esquecerem que somos todos iguais.

Levita é o judeu que nasceu na tribo de Levi. Você não é um. Aceite isto.

Adoração é tudo que o cristão faz com excelência. Música é apenas uma ínfima parte do que utilizamos para adorar a Deus. Dá perfeitamente pra vivermos sem bandas de louvor. Não seria tão legal, mas ainda sim seria possível.

A agenda da Igreja deve ser leve. Não precisamos ocupar o tempo das pessoas com programações infinitas. Esse papo furado de que “antigamente os cultos tinham 4 horas” não é uma justificativa racional. Se a razão pela qual estamos reunidos for adequada, tenha certeza que as pessoas irão ficar voluntariamente as mesmas 4 horas. Mas isto jamais poderá ser conseguido com imposição.

Cultura é o meio ideal para a tradução das verdades eternas do Evangelho de Cristo. Desprezar a cultura contemporânea é o mesmo que enterrar dons. Não importa o que você pensa. O que importa é se as pessoas estão recebendo um ensino claro e coerente sobre quem é Jesus e sobre o que Ele fez por nós.

Não existe separação entre o santo e o profano. “Todas as coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os contaminados e infiéis; antes o seu entendimento e consciência estão contaminados.” (Tito 1:15). Todas as coisas foram criadas por Deus. O uso de tais coisas é que as faz serem boas ou ruins.

O propósito do Evangelho é libertar pessoas. Ou seja, os pastores devem trabalhar para se tornarem inúteis. Manter pessoas debaixo de controle é mutilar a GRAÇA. Cristo não necessita deste tipo de pseudo-ajuda. Mais atrapalha do que ajuda quem tenta resolver problemas com regras e imposições.

Não precisamos esfolar pessoas por causa de dízimos e ofertas. É claro que Deus é generoso de maneiras inimagináveis. Mas não podemos nos esquecer que o favor de Deus não está condicionado à nossa fidelidade. Se estivesse, estaríamos todos ferrados. Se envolver financeiramente na vida da Comunidade (Igreja) é um dever do cristão. Mas se não houver uma motivação adequada, tal pessoa estará apenas cumprindo mais um rito religioso oco e sem poder algum. O propósito de todo ensino é sempre a transformação do entendimento. Afirmar que dar dinheiro é mais importante que “entender” porque o faz, é exatamente o que sustenta o sistema corrupto administrado por falsos pastores inescrupulosos.

Unidade é a coisa mais importante na vida da Igreja. O amor é o vínculo dessa unidade. Não precisamos pensar igual. Não precisamos padronizar formas, pensamentos, condutas ou ideias. Apenas precisamos exercitar o amor, de modo a encontrarmos acordo em todas as circunstâncias.

A Igreja é a comunidade que está acima das questões políticas. Erramos ou acertamos juntos. Sempre. E se alguém militar algum partidarismo, não compreendeu ainda os fundamentos da fé.

Fácil, né?



Fonte: http://www.ariovaldo.com.br/2012/como-a-igreja-deveria-ser/#more-1332