quarta-feira, 31 de outubro de 2012

VÍTIMA DE UM DEUS CRUEL


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Um amigo, recentemente, questionou o porquê Deus não acabava logo com a maldade dos homens. Certamente, pedófilos, assaltantes, assassinos, genocidas e outras categorias de homens maus não existiriam. De onde vem essa maldade que vemos atualmente? Mães que jogam crianças no lixo ou perversos que tiram o olho de um cão ou gato por prazer estão, para Deus, estão no mesmo pacote de cristãos que, da boca para fora, o adoram, porém vivem uma vida de engano.
Atribuir à Deus a maldade no mundo, não é só um equívoco teológico. Está diretamente ligada à educação cristã que não possuímos. Somos maus, perversos e a única coisa que nos distancia, mesmo que por poucos centímetros de um pedófilo, é a CRUZ. Afinal, você e eu, por mais que quiséssemos não formamos um elite gospel/cristã/evangélica que nos faz melhor que um assassino.
Há um mal com o qual temos que conviver no mundo. O homem foi criado bom, mas se tornou mal. Adão, eu e você escolhemos isso.
Aqui é o ponto que esclareço o título deste artigo. Alguns cristãos tentam explicar a maldade (como a tragédia em Realengo) ou psicologizar a humanidade colocando a responsabilidade em Deus, e, por consequência, acabam se colocando no papel de vítimas deste Deus Cruel. Erram, porque sequer voltam à Bíblia para entender sua própria fé.
Ele nos amou enquanto ainda éramos pecadores, isso é o que diz a minha bíblia1. Entre me condenar, por causa do meu pecado, à uma vida horrorosa, Deus escolheu redimir esta criatura às custas do sofrimento de seu filho. Acho que você o conhece, certo?! Estranhou a pergunta? É isso mesmo, você realmente conhece ou reconhece o que Ele fez por você! A cruz não é um símbolo apenas. Lembre-se que foi nela, que Ele tornou possível o seu culto no domingo. Mais que isso, abriu a possibilidade de você sair de um estado de trevas e enxergar a Luz.
Ao invés de acabar com a maldade, Ele oferece a CRUZ. A CRUZ grita PERDÃO e REDENÇÃO ao invés de CULPA e MORTE!
Referências
1.João 3.16-18

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Deus não está na Igreja!


igreja
Calma, calma…antes que você me rotule como herege leia Atos 7.48,49.
Deus não está em templos, seja eles pequenos onde no máximo caibam 10 pessoas ou gigantescos e suntuosos para milhares. Deus não deve ser buscado e adorado somente em um dia da semana (Shabat) ou só nas atividades da Igreja (culto). Deus não se apresenta mais somente para um grupo exclusivo de pessoas (sacerdores).
Uma nova aliança foi estabelecida, um novo testamento foi escrito, onde Deus se apresenta para todos os povos através do sumo sacerdote dos bens futuros, Jesus Cristo (Hebreus 9).
Neste novo momento estabelecido pela morte de Jesus foi dado o livre acesso à Deus, o véu do templo se rasgou, todos os dias se tornaram ótimos para que adoremos ao Senhor (Romanos 14.5,6; Colossenses 2.16,17), fomos abençoados, feitos povo de Deus,  diretamente por Ele sem a necessidade que outro homem hoje fizesse isso por nós (1 Timóteo 2.5; 1Pedro 2.9,10). Jesus disse que, se crermos que Ele é o Filho de Deus e que veio ao mundo para nos salvar, nos deixaria o Espírito Santo para entrar em nossa vida e fazer morada. Portanto, estamos sob Sua Graça, e Sua Graça nos basta para a Glória de Deus! (1 Coríntios 10.31).
Cuidado! Se você estiver buscando a Deus na igreja XYZ ou ABC porque lá Deus faz isso ou aquilo, não é a Igreja que faz isso, é Deus! E ele é Deus em todos os lugares!
E onde Deus está?
Deus está em todo lugar (veja bem, não é todo lugar que é Deus – isso é panteísmo). Ele é um Deus pessoal, o criador de todas as coisas. Assim, Deus não está limitado a uma igreja e nem a um grupo de pessoas. Deus está em lugares onde talvez você nunca entraria. Nos mais escusos lugares, onde pessoas pensam estar distantes e escondidas de Deus, ali Deus está também. E nestes lugares Deus pode operar milagres e salvar pessoas.
Deus está agindo em favelas, embaixo dos viadutos, na cracolândia, na roda do baseado, em hospitais, em bares, e onde Ele quiser agir. Sejamos os portadores da palavra de Deus para leva-la a estes lugares.
Muitos querem trazer as pessoas para a Igreja como se lá fosse um lugar especial. A igreja se reúne em lugares. Porém os lugares não significam nada. O que dá significado é a reunião dos cristãos, seja onde for. Se existem pessoas que você conhece e que não desejam ir à Igreja, então que você seja a igreja indo até elas.
Publicado em 24 de outubro de 2012, por  - Publicado em Artigo

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Qual é o sentido da sua vida?


Qual é o sentido da sua vida? Para que você veio ao mundo? Qual é a razão de Deus ter idealizado, projetado, formado e soprado vida em você? Será que foi para nascer, crescer, ganhar dinheiro e morrer? Biblicamente nós fomos criados para a glória do Senhor. Mas como podemos fazer nossos poucos anos de caminhada nesta terra valer a pena de modo a realmente glorificá-lo? Se não pensarmos sobre isso e conseguirmos fazer acontecer, não só não teremos glorificado a Deus como teremos tido um existência inútil. Sim, há algo mais. E o tempo para pormos esse algo em prática é muito curto.
A civilização em que eu e você nascemos é regida pelo dinheiro. Somos adestrados desde a infância a acreditar que a meta de nossa vida é alcançar fama e fortuna. É por isso que pessoas que não fazem nada e dão péssimos exemplos são consideradas "vencedoras" desde que fiquem famosas e faturem um bom dinheiro. O exemplo mais emblemático disso é o Big Brother Brasil. Em geral, seus participantes são modelos horríveis de comportamento e valores e ganham um milhão de reais para ficar sentados numa casa sem fazer nada. Ainda são chamados pelo apresentador de "nossos heróis". A meu ver eles são o arquétipo de quem nossa sociedade quer que sejamos: famosos e milionários, não importa por que meios.
É para isso que Deus criou você? É para isso que você acorda a cada manhã? Para se empanturrar de comida, perder horas preciosas na frente da televisão ou da internet, trabalhar para ganhar mais e mais dinheiro e gastar seu tempo imaginando uma maneira de fazer seu nome famoso e sua conta bancária mais polpuda? Não, meu irmão, minha irmã. Uma vida sem entrega pelo próximo não é uma vida do ponto de vista bíblico. Não passa de sobrevida. É vegetar espiritualmente. Dar sentido à vida é parar de olhar para o próprio umbigo e fazer algo que sirva para ajudar seres humanos em suas dores, seus sofrimentos e suas angústias.  Veja o exemplo de Agnes Gonxha Bojaxhiu.
Se você não sabe quem é Agnes, deixe-me falar um pouco sobre ela. Nasceu no paupérrimo e pequenino país chamado Macedônia, de uma família de etnia albanesa, e se naturalizou indiana. A Índia, vale lembrar, é o país das castas e de milhões de pessoas miseráveis financeiramente. Agnes não tinha dinheiro, mas possuía  aquilo que de maior valor pode ter um ser humano: um coração bondoso e lágrimas nos olhos pelos seus semelhantes. Ela decidiu fazer valer sua existência. Fundou uma organização de mulheres dedicadas à caridade e investiu sua vida em cuidar dos outros. Sem se preocupar com o próprio bem-estar, imergiu no mundo da miséria humana com sua mão amiga e o coração magnânimo, a ponto de receber o apelido de...adivinha? "A grande heroína"? "Magnífica mulher de Deus"? "A maior entre as maiores"? Não, nada disso. Seu apelido era "Santa das sarjetas". Que tal?
O lema que resumia a missão da instituição que Agnes fundou era "Topa tudo por dinheiro", será? Não, na verdade não. Também não era "Acordar, faturar, dormir". Muito menos "Saciar a sede por poder, influência, dinheiro e fama, dando todo meu suor para projetar meu nome". Era, isso sim: “Saciar a infinita sede de Jesus sobre a cruz de amor e pelas almas, trabalhando para a salvação e para a santificação dos mais pobres entre os pobres”. Certamente não é uma declaração de missão que você encontraria num quadro pendurado no escritório de gente como Donald Trump ou Roberto Justus. Menos ainda no de muitos líderes de certas denominações neopentecostais.
Nos anos 50 e 60, Agnes ampliou o raio de ação de sua organização para toda a Índia. Em 1965 chegou à Venezuela. Depois alcançou a Europa (na periferia de Roma, na Itália) e, em 1968, passou a atuar também na África (na Tanzânia). Até 1980, a instituição de caridade criada pela iniciativa dessa única mulher pobre levava amor, cuidado, amparo médico e calor humano para todo o mundo, da Austrália ao Oriente Médio, passando pelas Américas e até países comunistas (como Alemanha Oriental e a antiga União Soviética), num total de 158 centros de auxílio. O passo seguinte foi abrir centros de ajuda para doentes pobres com AIDS .
No final dos anos 80 e início dos 90, Agnes começou a ter sérios problemas de saúde. Isso não a impediu de continuar viajando pelo mundo para abrir novas casas de missão e devotar-se aos pobres e às vítimas dos mais diversos tipos de calamidades. A frágil e pequena mulher inaugurou novas comunidades na África do Sul, na Albânia, em Cuba e no Iraque, país dilacerado por causa da guerra. Em 1997, a instituição que Agnes fundou contava com 4 mil voluntários, que devotavam-se ao próximo em cerca de 600 unidades espalhadas por 123 países do mundo. Naquele ano, Agnes morreu, aos 87 anos de idade, após cumprir uma viagem dedicada a ações humanitárias por três cidades da Europa e dos Estados Unidos.
O que você acha, a vida de Agnes valeu a pena? Não acumulou riquezas. Nunca se casou. Não teve filhos. A fama que obteve foi em função da notoriedade que suas iniciativas pelo bem-estar do próximo alcançou. Abriu mão dos prazeres e do conforto deste mundo para que cada um de seus dias sobre a terra valesse a pena. Seu legado hoje permanece entre nós, não na forma de arranha-céus, catedrais ou monumentos suntuosos, mas na forma de milhares de vidas humanas abençoadas por seu amor, sua devoção, sua entrega pelo próximo, sua abnegação e sua preocupação muito maior com os outros do que consigo mesma. Que mulher magnífica! Penso na vida de Agnes e naquilo que ela fez por todas essas almas e confesso que lágrimas rolam por meu rosto, ao ver quão desgraçadamente longe estou de ter um vida com tanto significado quanto a dela. Eu quero ser como ela quando crescer. Quero que meus dias façam sentido, um sentido que vá muito além de ganhar dinheiro, prêmios e bajulação, mas que ecoe no Céu e pela eternidade como dias que compuseram uma vida que valeu a pena.
Penso em todas as vezes em que fui vaidoso e preocupado com vantagens materiais e vejo que completo imbecil eu fui. Porque isso não vale nada. Não vale um minuto sequer sobre a terra. Olho fotos de certos pastores, que posam com a Bíblia na mão como se fosse um cetro dos antigos Césares, e vejo como a vaidade e a ambição humana nos distorcem e nos transformam em pedaços de carne dignos de pena. Não, não quero seguir pelo caminho da fama e da fortuna. Quero sustentar minha família com honradez, dando dignidade aos meus mas sem perder o foco do que realmente interessa e sem passar por cima ou defraudar meu semelhante para isso.
Se você me perguntar hoje qual é meu maior sonho no momento eu diria, sem nenhum desejo de parecer magnânimo, que é uma dia chegar a fazer pelo próximo 0,5% daquilo que Agnes Gonxha Bojaxhiu fez. Não sei ainda como, quando ou onde, mas minha oração ao Senhor é que me mostre. Que me encaminhe para isso da forma que achar melhor. E seja feita Sua vontade, na terra como no Céu. Também oro a Deus que toque muitos corações para que vejam o que realmente importa na pátria celestial - e não nesta decadente civilização consumista em que vivemos enquanto peregrinos nesta terra estranha.
Quando Agnes morreu, compareceram ao seu funeral chefes de nações, primeiros-ministros, rainhas e enviados especiais de dezenas de países de todo o mundo. Algo que ela certamente dispensaria, visto que passou a vida entre os miseráveis, os doentes, os sofredores e os pequeninos. Nem mesmo o Prêmio Nobel da Paz que recebeu mudou sua rotina de enfiar os pés nos lamaçais dos recônditos mais humildes e necessitados do planeta para abençoar vidas. Nada desviou aquela pequena gigante de seu propósito maior: glorificar Deus por meio dos mais sinceros e devotados gestos de amor pelo próximo. E você? Qual é o propósito maior da sua vida? E o que você tem feito para alcançá-lo? Se não tem feito nada além de tentar ganhar dinheiro ou projetar o seu nome, este é um bom momento para começar a parar de correr atrás de vento e dar início a algo que de fato dê sentido a sua vida.
Ah, sim: se você ainda não ligou o nome à pessoa, Agnes é mais conhecida como... Madre Teresa de Calcutá.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

domingo, 14 de outubro de 2012

Verdade


Ed René Kivitz
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar.
Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
O poema de Carlos Drummond de Andrade é um convite à humildade e à comunhão. Comunhão não existe sem humildade. E sem as duas, não existe experiência da verdade. A verdade a gente não sabe. A verdade a gente vive quando ela se apropria da gente. A verdade não é coisa da razão, resultado da reflexão. A verdade é soma de corações e não de cabeças. A verdade é coisa fugidia, que não se deixa prender na gaiola dos raciocínios, não cai nas armadilhas dos pensamentos.
A verdade é isso, a gente experimenta, saboreia, se delicia, mas não fica com ela como quem tem posse, pois a verdade é maior do que nós. Em cada um de nós só cabe meia verdade. E a gente tenta fazer uma verdade inteira juntando as partes e ficando com elas, como quem rouba do outro a metade que está com ele, pra depois a gente ficar dono da verdade. Mas a verdade não participa desse jogo.
O jogo da verdade não é soma, é partilha. Não é brincadeira onde quem tem mais meias verdades ganha. É mais como uma dança aonde a beleza e o alumbramento vêm no par, ou até mesmo na roda, aonde as mãos e braços vão se encontrando e se despedindo, até que todo mundo na roda vive a verdade, e brinca com ela cada vez que os braços se entrelaçam e as mãos se acariciam. No fim da noite, quando cada um vai para casa descansar, a verdade também se recolhe, para que no dia seguinte todo mundo se precise novamente. Assim a humildade e a comunhão cuidam da verdade.
Na dança da verdade, meia verdade é verdade com limite, é verdade incompleta, dizendo para todo mundo que as idéias são menos importantes que as pessoas. Quem não consegue entrar na roda e quer espreitar para colecionar fragmentos de verdade, imaginando ser possível ficar dono da verdade e viver tomando conta da verdade, de fato, não vive com a verdade, mas com o capricho, a ilusão ou a miopia. Porque prefere as idéias às gentes, fica com a mentira, porque a verdade é uma pessoa e não um conceito.
A verdade é uma pessoa, que gosta de brincar, de rir e de chorar. A verdade é uma pessoa que se dá a conhecer na comunhão dos humildes: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”, disse a verdade inteira aos que tinham consigo apenas meias verdades.
fonte: Blog do Ed René Kivitz

domingo, 7 de outubro de 2012

Gramática de carne e sangue


Imagem: Google
Publicado por Sostenes Lima
Houve um dia em que Deus se cansou de ser fabricado, construído e grosseiramente reproduzido em palavras. Se cansou de ser ídolo. Desistiu da linguagem denotativa como recurso para se fazer conhecido. Abandonou definitivamente os cânones da religião. Percebeu que tudo que aí se dizia (e se diz) a seu respeito tinha (e tem) um poder incrível de se transformar em parafernália religiosa.
Deus viu que todos os textos que tentavam trazê-lo para perto dos seres humanos, uma vez sob o controle dos magnatas da religião, logo se transformavam (e ainda se transformam), em dispositivos de opressão e desumanização. Deus notou que os textos sagrados, quando entram para o domínio do aparelho religioso, perdem a vida e se revestem de morte.
Depois de tanto desencanto com os textos e com o aparelhamento da religião, Deus decidiu vir aos homens revestido noutro tipo de palavra. Deus se cansou de ser obscurecido, aviltado e demonizado pelos textos que o aparelho religioso produz (e continua produzindo) sobre ele. Decidiu, então, fazer de si mesmo um texto de carne, uma poiesis encarnada.
Deus quis se mostrar de verdade. Para isso, revestiu-se de carne humana, de ossos humanos, de desejos humanos, de cognição humana, de psiquismo humano, de abraços humanos, de beijos humanos, de histórias humanas, de prosa humana, de poesia humana. Deus rompeu com a linguagem referencial e se casou com a matéria e poiesis humanas. Deus virou um poema em carne, que desbrava e encanta corações sequiosos de contemplação, ternura, afeto. Deus passou a morar em histórias que celebram o desmoronamento das estruturas religiosas. Deus virou um contador de histórias da vida cotidiana, abandonando de vez a tribuna dos grandes eventos litúrgicos e as cátedras das grandes escolas rabínicas.
Deus virou um de nós para nos mostrar que nenhum monumento de linguagem referencial, nenhuma confissão teológica, nenhum acontecimento litúrgico pode tocá-lo. Apenas um texto recoberto de sensibilidade (um poema, uma metáfora, uma história, um causo) pode traçar alguns de seus contornos. Nenhum edito, encíclica, confissão, sermão, petição, relatório etc., que esteja a serviço de algum empreendimento religioso, contém Deus.
Deus não se deixa conceituar porque sabe que conceitos podem virar instrumento de morte. Muitos já mataram e muitos já morreram por causa de algum conceito religioso. É por isso que Deus jamais foi textografado. Deus sempre soube que um texto que o refletisse com precisão, compondo uma Textografia de Deus, mais cedo ou mais tarde (talvez só mais cedo), cairia na mão de algum magnata religioso (pessoal ou institucional) e se transformaria num instrumento de exploração, dominação e execução.
Deus nunca esteve em textos que servem para oprimir, excluir e matar. Aliás, Deus nem chega perto de eventos nos quais textos assim estejam sendo lidos/falados, a não ser para recolher dali os fracos e pobres que estão sendo massacrados.
Deus, agora, não está mais nos textos. Ele está nas pessoas. Deus virou gente para não precisar mais da mediação dos textos. Deu um basta na farra que os religiosos estavam fazendo em nome de textos supostamente sagrados ou supostas teotextografias. Na verdade, Deus se cansou de ser vítima dos textos. Fez de si mesmo o texto a ser seguido, imitado, lembrado.
Sem a necessidade dos textos como elementos de mediação, os magnatas do esquema religioso agora estão de mão abanando. E foi se a glória da máquina religiosa! Ninguém precisa mais se submeter a nenhum rabino, sacerdote, apóstolo, profeta, padre, pastor, bispo, reverendo etc. etc. Deus é o próprio texto encarnado, escrito numa gramática de carne e sangue, que pode ser lido/comido por qualquer um. O verbo se tornou carne e nos disse: “Este é o meu corpo que é dado por vocês. Comam dele todos. Deixem que as estruturas do verbo sejam dissolvidas na alma, no caráter e no afeto de vocês. E, assim, sejam impelidos à prática do amor”. Amém.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

5 mentiras que a igreja me contou...



A vida cristã e a tirania das metas
Metas, objetivos e alvos numéricos, quem está livre deles hoje? Vivemos em uma sociedade massacrada pelos números. Em sua empresa você está moralmente obrigado a produzir cada vez mais sob risco de demissão caso falhe no cumprimento de suas metas. Na escola ou na faculdade seus professores exigem uma quantidade mínima de leitura e produção acadêmica, além da tirania dos ponteiros da balança que insistem em jogar na sua cara que você não está cumprindo a meta do peso ideal. Os números te sufocam. Os números te acusam insolentemente.

Entretanto você encontra em sua comunidade de fé um ambiente acolhedor, livre da opressão dos números e das metas, certo? Infelizmente isso nem sempre é verdade, pois, algumas igrejas acham que a grande comissão dada por Jesus está atrelada ao cumprimento de metas numéricas. “Você deve trazer durante este mês pelo menos uma pessoa não salva!” – pedem alguns líderes. “Quantas almas você ganhou para Jesus no ano passado?” – acusam outros. E, onde deveria ser um ambiente de restauração e refrigério, acaba tornando-se outro lugar para o cumprimento de mais tarefas e metas. Os números te acusam até mesmo na igreja.
A justificativa que muitos líderes dão está supostamente baseada no texto de João 15. “O crente deve dar frutos, senão será cortado da árvore!” - asseveram os feitores dos números. Certa vez, ouvi de um destes pastores numerólogos que os frutos que Jesus menciona neste trecho são as almas que ganhamos para o Reino de Deus. “E agora? Ainda não levei ninguém a Cristo este ano” – preocupa-se aquele irmão dedicado e envolvido com a obra de Deus. “Eu testemunhei, mas ninguém se converteu.” – confessa ele ao seu travesseiro. “Eu convidei meus vizinhos e parentes para o musical anual da Igreja, mas ninguém aceitou meu convite” – desabafa com sua pesada consciência.
Ao mesmo tempo em que a meta de quantas “almas” ganhamos para Jesus é apresentada também ouvimos que o Evangelho liberta. E isso causa confusão e frustração na mente de muitas pessoas que desejam viver uma vida cristã coerente. Porém, este conceito de um evangelho baseado em metas numéricas pode ser desfeito pelo estudo do contexto de João 15.
Nesta passagem Jesus diz que seus discípulos devem dar frutos, e isso é incontestável. Mas a qual fruto Jesus está se referindo? Uma leitura cuidadosa vai nos mostrar que Jesus esta falando do amor que seus discípulos devem mostrar uns aos outros, tal como o próprio Jesus mostrou por eles. Aqui Jesus sequer menciona o processo de evangelização que tomamos como certo para gerar tais frutos. Jesus não condiciona o discipulado a qualquer método numérico, nem projeta um sistema de crescimento por meta alcançada.
Jesus nos liberta da tirania das metas e dos números ao nos mandar amar ao próximo e não condiciona nossa ligação ao tronco com o cumprimento ou não da meta. Nossa ligação com o tronco está condicionada ao amor que temos uns pelos outros, pois, se não amamos aqueles a quem vemos como poderemos amar a quem não vemos? Se não temos amor uns pelos outros não temos o amor do Pai, e, se não temos o amor do Pai, logo não estamos ligados ao tronco.
Portanto, o fruto não é uma meta numérica de quantas almas ganhamos para Jesus, mas o ideal de uma vida de amor pelo próximo.
Que o Senhor te abençoe e te guarde.

Alexandre Milhoranza